Futuro da Amazônia depende da "quarta revolução industrial

O futuro da Amazônia pode depender de uma terceira via de desenvolvimento baseada na inovação tecnológica de ponta, no conhecimento tradicional e nos ativos da biodiversidade. Esta arquitetura inclui erguer em vários pontos da floresta centros de pesquisa como o Vale do Silício, na Califórnia e ter uma rede de cientistas internacionais estudando sua riqueza biológica.


A estratégia está relacionada à implantação, na floresta, da chamada "Quarta Revolução Industrial". O conceito, tema da reunião deste ano no Fórum Mundial de Davos, trata de um movimento global em curso há mais de uma década e que revoluciona as sociedades por meio de inteligência artificial, robótica, genômica e nanotecnologias, por exemplo.

"É olhar a Amazônia não pelos seus recursos naturais como água, terra e minerais, mas pelos biológicos", diz o climatologista Carlos Nobre. "É estudar a riqueza biológica da Amazônia. Principalmente, a riqueza biológica escondida." A abordagem está em estudo publicado sexta-feira na revista PNAS (Proceeding of the National Academy of Sciences) por um grupo de cientistas liderado por Nobre. Trata-se de um plano de inovação em grande escala para a floresta. O modelo associa ciência ao conhecimento tradicional das comunidades locais e povos indígenas.

A ideia é explorar o que outro pesquisador do grupo, o peruano Juan Carlos Castilla-Rubio, denominou de a "terceira via amazônica". "Esta nova economia tem o potencial de ser muito maior do que a atual, baseada na exploração econômica com 'intensificação sustentável'", diz o engenheiro bioquímico Castilla-Rubio. Outro flanco do estudo aponta os riscos a que a floresta está submetida. "Fizemos um grande sumário do conhecimento mundial recente sobre Amazônia e apresentamos resultados novos sobre o efeito sinérgico do desmatamento com o aquecimento global mais os incêndios florestais, e considerando os efeitos benéficos do aumento da concentração de gás carbônico para a floresta", diz Nobre.

Esses fatores juntos mostraram que há dois limites que não podem ser superados para garantir o equilíbrio da floresta: chegar a 4°C de aquecimento ou 40% de desmatamento. Se uma dessas condições for superada, os cientistas acreditam que se chegará a um ponto de ruptura. Em 2050, metade da floresta pode virar savana. Os pesquisadores envolvidos com o estudo não acreditam na primeira via de desenvolvimento da Amazônia. Foi o debate de décadas atrás, de tentar preservar tudo com unidades de conservação. "A ideia de colocar uma cerca na Amazônia era impossível", diz Nobre.

Nobre, que é pesquisador aposentado do INPE e novo membro da National American of Sciences (NAS), é crítico do segundo modelo de desenvolvimento, baseado na "exploração econômica e na intensificação sustentável". Diz ele: "Está embutido aí a ideia de que é preciso remover a floresta para gerar valor econômico. E quanto mais bem-sucedida a atividade, mais dinheiro há para colocar neste modelo. Nenhum desses caminhos asseguram a manutenção da floresta a longo prazo", diz Nobre.

Os pesquisadores citam a exploração do açaí, do babaçu, do cupuaçu. Mas, mais que isso, de estudar, por exemplo, a rã Tungara, que cria uma espuma de longa duração capaz de absorver CO2. Outro exemplo é do jambu, planta com propriedades anestésicas que está sendo estudada para uso em pastas de dentes ou em produtos antiinflamatórios. "É aprender com as soluções que o ecossistema da floresta desenvolveu há milhões de anos", diz Nobre.

Castilla-Rubio lembra que a recente redução de 80% no desmatamento da Amazônia nos últimos 10 anos cria uma ponte para que se inverta o modelo de desenvolvimento atual na região. "É produzir valor econômico com muito conhecimento e inovação, mas mantendo a floresta em pé", diz ele. "É desenvolver cadeias de produtos baseados na biodiversidade e que têm capacidade de alcançar mercados globais."


Written by Daniela Chiaretti
Published on Valor Online


Fabio Issao
Currently focused on Branding and Information Design, Fabio Issao helps individuals and organizations to improve their visions, purposes and businesses strategies through design-oriented methodologies. In the last 12 years, Fabio co-founded 3 design studios (LUME, Flag and Camisa10). After that, he served as the Strategic Design Director at Mandalah, a global conscious innovation consultancy, for 5 years, where he helped global and local brands to implement design as a changing-driver for all its projects. Since July 2014 he's been working on different projects, all of them based on creating social good and purposeful products and services.
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